Isso não é Psicanálise...

08/02/2020

Isso não é Psicanálise...

“Isso não é Psicanálise”. Essa foi uma afirmação... ou uma negação, que ouvi e que me provocou inquietações. E foi justamente a partir desses sentimentos inquietantes, que me ocorreu o emaranhado do pensar. Talvez, por causa dessa confusão que até então eu me deparo, as ideias possam soar como incompletas. Peço então que tenham paciência da minha incompletude, pois sem ela eu não teria feito este pequeno texto.

A cada dia me vejo mergulhada em um mar tortuoso de informações que me fazem questionar sobre o espaço da Psicanálise, enquanto teoria e prática, na nossa sociedade. Em um cenário de constante ataque aos direitos, de corte aos serviços públicos e de completa banalização da violência, pergunto-me se caberia a nós, que trabalhamos com Psicanálise, nos atermos aos muros dos nossos consultórios individuais.

Penso que os muros, ao mesmo tempo em que podem nos proteger, podem nos afastar do contato. É como uma defesa que recorremos diante de algo que julgamos como perigoso, e por isso formamos e sustentamos muros no decorrer dessa turbulenta caminhada que é a vida. Acredito que haja muito cimento e trabalho para podermos tapar alguns buracos que possam surgir na estrutura erguida em um solo tão incerto. Realmente não é um trabalho fácil a se fazer.

Escrevendo sobre muro, veio-me agora a lembrança de certo dia em que eu estava assistindo televisão. A reportagem mostrava um bombeiro falando sobre as recomendações de como escapar de uma corrente no mar. Enquanto o bombeiro falava, uma frase me chamou a atenção: nunca ir para o lado oposto ao da correnteza. Imagino que a sensação de quem está dentro de alguma correnteza não seja agradável, e que talvez a primeira ação seja a de fugir justamente para o lado contrário ao que assusta. Mas, como já dizia os mais velhos: “o mar é traiçoeiro”, e o que parece ser uma fuga... pode ser a nossa própria incursão.

Chegando agora ao final desse texto, pergunto: mas será que muro e mar são Psicanálise? Bem... acredito cada leitor tirará sua própria conclusão. Afinal, o curto percurso que fiz até aqui não é um ponto de chegada, mas um ponto de saída... de saída de correntezas, de muros, de certezas... para que o nosso pensamento então ganhe horizontes que até então eram desconhecidos.

Polyana Santos de Oliveira

Psicóloga CRP 19/3315

Aluna do Curso de Psicoterapia do NPA

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Coordenação: Danilo Goulart