Entrevista - Leonardo Francischelli (SBPdePA)

06/04/2017

 

Em entrevista exclusiva para o site do Núcleo Psicanalítico de Aracaju, o psicanalista Leonardo Francischelli (membro titular da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre) aborda algumas temáticas que serão aprofundadas durante a XV Jornada de Psicanálise de Aracaju, que acontece nos dias 7 e 8 de Abril no Del Canto Hotel, sob a realização do NPA. O convidado fará parte da mesa "A função psicanalítica em tempos de imediatismo", prevista para o segundo dia de evento.

* Entrevista elaborada pela Assessoria de Comunicação do Núcleo Psicanalítico de Aracaju

NPA: Inicialmente, gostaria de falar um pouco sobre a sua participação na XV Jornada de Psicanálise de Aracaju, que acontece nos dias 7 e 8 de Abril 2017, compondo a mesa intitulada "A função psicanalítica em tempos de imediatismo". Poderia nos adiantar algumas considerações que serão discutidas e aprofundadas durante o encontro?

Esse significante " imediatismo " traduz uma mal-estar do nosso tempo. Trataremos de dialetizar com outros significantes que também procuram traduzir nosso momento histórico, como de "Sociedade Líquida" de Bauman. Sobre a "Funcao Analítica" em tempos de cólera, como diria Garcia Marques, falaremos da sua importância imprescendivel do nosso tempo de desordens em que vivemos e que a psicanálise tem muito a oferecer.

NPA: O fator tempo no âmbito cultural da atualidade (tendo em mente a questão do imediatismo que vivemos) deve ter alguma influência no modo de trabalho do analista, necessitando de ajustes quanto à sua técnica e mesmo à sua ética na clínica? Ou, do contrário, um dos desafios da psicanálise atual é justamente levantar questionamentos acerca da relação do sujeito com esse tempo cronológico que, de algum modo, desconsidera a subjetividade?

O fator tempo nos remeteria para o "tempo lógico" lacaniano, onde, em relação à técnica "tradicional" implica sim uma mudança profunda. Por outro lado em relação à ética, também na concepção de Lacan que seria não "ceder ao seu desejo", não haveria mudanças, pelo contrário. Essa ética vai se opor ao imediatismo, se o vemos como um processo de alienação do sujeito. Onde a "subjetividade" foi para o espaço.

NPA: Quais os principais desafios em relação à formação do psicanalista, tanto em um contexto institucional, como levando em conta o percurso do candidato?

Entendo que temos um desafio em relação à formação dos psicanalistas da nossa contemporaneidade. Talvez um fator importante passe pela instituição mesma, onde a democracia interna será um dos fatores fundamentais. Como vivemos a dança das teorias e cada uma se entende, narcisistamente, como a melhor, isso implica em formações de ilhas dentro da instituição psicanalítica, como um todo. Pensamos que não perder Freud de vista seria a chave para a nossa formação. Como nos disse Angel Garma em nosso tempo distante de candidatos, toso psicanalista deve e precisa conhecer Freud com profundidade.

NPA: O avanço da psicanálise também é feito a partir de redescobertas, que se somam aos novos caminhos percorridos por ela. Na sua opinião, existem conceitos ou trabalhos psicanalíticos importantes que, por certo tempo, foram relegados como secundários e que agora precisam começar a ser resgatados ou repensados?

Nossa história fala disso. Se tomarmos o conceito "a posteriori" dentro da obra freudiana, ele surge precocemente, contudo, ficou "esquecido" por muito tempo na linguagem teórica dos psicanalistas. Esse foi um dos conceitos resgatados e que hoje ocupa seu merecido lugar. Outros, no momento, não me ocorrem.

NPA: Para a psicanálise, qual a importância de aspectos e processos que envolvem o que é comumente chamado de "contrato", como as entrevistas preliminares e a enunciação de algumas características do processo analítico?

Bem, sobre o contrato teríamos muito o que dizer. Talvez seja uma das "peças" principais das entrevistas inicias. Ainda que possa parecer desprezível as combinações com o futura analisando, pensamos que as combinações entre ambos será o que vai condicionar o andar da carruagem psicoanalitica da cura em curso.

NPA: A transferência continua sendo a base fundamental da análise? Poderia nos falar mais sobre sua visão acerca dessa questão?

Sim. Sem transferência não há solução. Não há análise sem transferência. Sempre escutamos que a psicanálise cura pela palavra; sim, sempre é quando acrescentarmos a palavra em transferência. Seria uma pequena pincelada sobre a importância da transferência. Talvez pudéssemos dizer algo sobre a contratransferencia, importante instrumento teórico/técnico da nossa clínica. Para Lacan, ela representa uma resistência do analista. Como vemos, é polêmica a posição da contratransferencia e matéria para uma longa discussão.