Entrevista com Márcia Câmara

26/09/2015

Membro da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro (SPRJ) e da Sociedade Psicanalítica de Mato Grosso do Sul (SPMS), a psicóloga (CRP 06/47773-6) e psicanalista Márcia Câmara em entrevista* para o NPA fala sobre temas como os desafios da clínica e do pensamento psicanalítico, além da relação corpo-mente. Nos dias 2 e 3 de Outubro fará parte das mesas “As origens do psiquismo” e “O objeto sou eu” durante a XIV Jornada de Psicanálise de Aracaju. Confira:

* Entrevista conduzida pela Assessoria de Comunicação do Núcleo Psicanalítico de Aracaju

NPA: Quais as principais discussões que serão trazidas para a XIV Jornada de Psicanálise de Aracaju durante as duas mesas que irá participar?

Márcia Câmara: Nas mesas que fui convidada a participar a proposta de discussão é sobre novas abordagens de como pensamos e percebemos hoje a construção do aparelho psíquico. Como essas ideias influenciam um novo pensar psicanalítico.

NPA: O universo psicanalítico é bastante variado quanto a conceituações, vertentes e perspectivas. O que, por outro lado, une essa diversidade?

Márcia Câmara: Penso que o que une as diversidades são os pensadores que se dispõem a investigar o não sabido de cada pensar. Quem acredita - e eu digo acredita porque contém mais um aspecto de fé que de ciência - que seu modo de ver é o verdadeiro já está automaticamente excluído da possibilidade de qualquer discussão sobre diversidade, pois acreditar que possui a verdade do saber não permite questionamentos! Torna-se mais uma questão de fé!

NPA: Quais os desafios atuais à clínica psicanalítica quanto à relação analista-analisando?

Márcia Câmara: Talvez o lugar do analista seja a questão. Porque a mudança vai recair sobre que aspectos referenciais está o analista escutando seu paciente e parceiro de trabalho analítico. Quando referencio desta maneira já estou informando como vejo a relação analítica: um encontro entre dois seres humanos que concordam iniciar uma aventura de investigação psicanalítica onde seus universos pessoais contribuirão de forma plena e diferenciada para que esta referida experiência se evidencie possível. Posso lhe afirmar que é uma aventura incrível! Sou geralmente muito precisa em usar as palavras, por isso quando digo aventura é porque é exatamente isso: uma fascinante aventura ao desconhecido de cada um! Isto é psicanálise!

NPA: De que maneira em seu trabalho como psicanalista você entende a relação corpo-mente nos pacientes?

Márcia Câmara: Quando escrevo sobre isto utilizo a palavra “ corpomente” como sendo a mais adequada. Qualquer separação corpomente é só uma questão referencial, não há como separá-los, são uma unidade em si.

NPA: Como o conceito psicanalítico de corpo difere do modelo estritamente biológico? Há uma tendência atual para pensar o corpo de maneira a integrá-lo com os afetos, fantasias e desejos do sujeito? Ou a concepção tradicional de polaridades separadas se mantém como a mais usual?

Márcia Câmara: Quando um médico estuda o aparelho digestivo e focaliza sua atenção só nele, ele tem como objetivo saber tudo que puder para melhor atender seu paciente, sem esquecer que este mesmo paciente é um ser humano total! Corpo concreto e corpo simbólico, o dos afetos, que funcionam simultaneamente. Para o psicanalista a questão vai ser mais a relação dos afetos que só acontecem porque o corpo está vivo.

NPA: O ritmo vivido na contemporaneidade afasta as pessoas de um olhar para dentro?

Márcia Câmara: Penso ser mais a dificuldade que as pessoas têm de interagirem consigo mesmas. Muitas vezes percebo que não sabem o que é diálogo interno, nunca prestaram atenção em suas próprias vozes e seus pensamentos. É espantoso!

NPA: Além dos requisitos básicos para a formação, do que um psicanalista precisa?

Márcia Câmara: Boa pergunta, mas penso em algumas coisas, como, por exemplo, o desejo , as possibilidades reais e muito interesse pelos mistérios da natureza humana.