Entrevista com Daniel Delouya

21/09/2015

Com a conferência "Freud e o Projeto", além da mesa de discussão "Comunicação Virtual e Psicanálise", junto com Danilo Goulart (NPA, CRP 19/2692) e Eduardo Afonso Jr. (SPR/NPN), o psicanalista de origem marroquina Daniel Delouya estará presente na XIV Jornada de Psicanálise de Aracaju, que ocorre nos dias 2 e 3 de Outubro, com a temática "Sobre uma mente corporal". Analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e Diretor do Conselho Científico da Federação Brasileira de Psicanálise, possui entre seus livros publicados: Depressão (2000, Casa do Psicólogo), Entre Moisés e Freud (2000, ViaLettera/FAPESP), Depressão, estação psique: refúgio, espera, encontro (2002, Escuta/FAPESP), Epistemopatia, o conhecimento na clínica psicanalítica (2003, Casa do Psicólogo) e Torções na razão freudiana: especificidades e afinidades (2005, Unimarco). Nessa entrevista*, ele comenta as expectativas para o evento e aborda os horizontes da metapsicologia freudiana na atualidade:

* Entrevista conduzida pela Assessoria de Comunicação do NPA

NPA: O que será discutido e pensado durante a mesa "Freud e o Projeto", parte da programação da XIV Jornada de Psicanálise de Aracaju?

Daniel Delouya: "Projeto de uma psicologia" é um manuscrito de Freud gestado durante seis meses, desde abril/1895. Após uma década na qual se vislumbra um novo campo, um projeto para a psicanálise instaura-se e, hoje, 120 anos depois, sua projeção está ainda longe de ser completamente esgotada ou alcançada.

NPA: De que maneira a metapsicologia freudiana contribui para a experiência clínica atual ao se levar em conta as mudanças promovidas nos últimos anos?

Daniel Delouya: A metapsicologia serve de fonte constante de instrumentos de percepção clinica e a sua contextualização técnica e teórica no conhecimento dos limites da vida psíquica. Esses, vêm sendo denunciados na contemporaneidade e exigem, portanto, um cuidado também no palco da cultura.

NPA: No livro "Epistemopatia" você discute algumas aproximações e rupturas da psicanálise com o método científico. Poderia falar mais sobre isso?

Daniel Delouya: A tensão existente na própria fonte do conhecimento científico gerada pelo método estabelece limites frutíferos para a ciência. Nosso substrato, nosso objeto, transpõe esses limites, o que torna a psicanálise muito mais rica e fascinante, porém menos segura e sem grandes garantias perante o campo de conhecimento compartilhável.

NPA: É possível considerar que o texto “Projeto para uma psicologia científica” de Freud em 1895 antecipa algumas considerações e descobertas da neurociência e da neurobiologia?

Daniel Delouya: O manuscrito de Freud não é neurológico e tampouco compartilha o campo das neurociências. As confirmações análogas recentes dessas áreas no campo do sonhar etc. não surpreendem. O regime de observação e da descoberta da psicanálise, o campo psíquico e transferencial, é distinto, não passível à penetração dessas áreas. Devemos estar atentos à singularidade de nosso campo de atuação.

NPA: Um dos seus livros aborda o fenômeno da depressão. Como Freud contribui para pensar esse tema, tendo em vista a notoriedade que o assunto tomou nos últimos anos, tanto em termos midiáticos, como também em relação ao aumento de diagnósticos?

Daniel Delouya: A depressão deve ser distinguida da depressividade que é a condição de alcance da apreensão psíquica. A depressão, como a angústia, são modos de alerta e, ao mesmo tempo, flagram as dificuldades, os desvios dos alcances da assunção psíquica, a depressividade. Essa implica uma apropriação de meios infantis/sexuais para pensar, para viver e criar diante do desconhecido, da realidade, do meio em que vivemos.

NPA: Qual seria a importância de se discutir a integração corpo-mente na esfera da psicanálise?

Daniel Delouya: A psicanálise trata do corpo enquanto fonte/provocação do trabalho do outro, do mensageiro da cultura (adulto/mãe), gerando o sujeito psíquico movido pelo inconsciente. Importante não incorrer na dicotomia de 2000 anos entre o físico e a alma. Essa dicotomia representa a intolerância ao mundo psíquico - o que desde Freud estamos alertando. De outro modo, ele vinga, ele faz o corpo gritar.