Violência

29/05/2019

 

Violência

A escolha do tema a ser abordado pode parecer à primeira vista conhecido, em função das notícias oferecidas que entram diáriamente em nossos lares, através da mídia jornalística, televisiva e escrita, e mais recentemente pelas redes sociais.

Este importante serviço que os meios de comunicação nos prestam, oferece a oportunidade de toda a sociedade parar com a negação de tal atrocidade na sociedade humana, já no iníco do XXI, que outrora nos parecera, poderia ser o alvorecer do abandono da violência entre nós humanos, evoluídos pelos vastos conhecimentos adquiridos desde a madrugada dos tempos.

Mas, paradoxalmente, isto não tem acontecido e os casos abundam cada vezes mais, com cenas de crueldade que nos pareciam inimagináveis, que se descortinam no decorrer de nossa vida cotidiana.

Nelson Mandela escreveu certa vez que “muitos dos que convivem com a violência no dia a dia assumem que ela é parte intrínseca da condição humana, mas não é ... a violência pode ser prevenida.”

Hannah Arendt, filósofa política de origem judia, foi uma das mais influentes mulheres do século XX. Em função da privação do direitos e liberdades de pessoas de origem judaica, ocorrida na Alemanha nazista, assim como sua breve prisão no ano de 1933, decidiu emigrar.

O regime nazista retirou-lhe a nacionalidade em 1937 e ela tornou-se apátrida até 1957, quando conseguiu a nacionalidade norte americana. Cito Hannah Arendt porque é dela um livro que desejo destacar neste espaço: ”A banalidade do mal”, onde ela expõe seu pensamento de que, com a massificação da sociedade, se criou uma sociedade incapaz de fazer julgamentos morais, razão pelo qual os subalternos aceitam e cumprem ordens sem questionar.

Assim ocorre com os governos totalitários, corruptos, onde a corrupção segundo um ex-governador brasileiro preso por corrupçao ativa, que nos joga a verdade em nossa cara, por mais que nos horrorizemos e não queiramos admitir: a corrupção vicia. O desejo de poder vicia e aumenta cada vez mais a ganância de obtê-lo a qualquer preço.

Algum tempo atrás, ouvi em entrevista de um ex-condenado que havia cumprido sua pena, que chegou a se perguntar o por quê de tanto roubo, se ele mesmo sabia que não teria tempo em vida para gastá-lo, mas ele não sabia responder porque o desejo do roubo o seduzia cada vez mais.

Estamos vivendo em tempos de violência maior, ou ela sempre existiu no ser humano, e agora, em tempo de massificação do conhecimento ela está podendo ser mais exposta?

Quando falo de massificação da sociedade, me refiro a uma sociedade em que os indivíduos agem de forma semelhante, com gostos e interesses praticamente padronizados, moldados ideologicamente para agir de forma massificada, ou seja, da forma como se espera que ajam.

O verbo massificar signifca tornar massivo o que não era, uniformizar, igualar, nivelar, padronizar. Padronizar pessoas coletivas cujos integrantes compartilham certos comportamentos sociais ou culturais.

A violência está, segundo meu ponto de vista, massificada e inclusive banalizada. Mas, que de violência estamos falando ?

Ela possui várias faces que vão desde os regimes totalitários, ataques contra as mulheres, crianças, adolescentes, idosos, doentes, animais, e a lista é sem fim.

No Brasil, atualmente, estamos conhecendo um fenômeno, que há poucos anos, desconhecíamos: a violência explícita dentro do parlamento, entre deputados e senadores , que passaram a se permitir xingamentos, cuspidelas na cara do opositor, ataques à honra, assassinatos de reputações dos opositores.

Vale a pena citar aqui, Silveira Sampaio, médico, ator, jornalista e empresário brasileiro, falecido em 1964, como uma pessoa que soube usar a agressividade na política de forma subliminar, e nem por isso, menos provocativa. Um homem público que usava palavras inteligentes para criticar ou se defender dos ataques pessoais que lhe desferiam, em função de suas críticas. Na televisão usava um estílo crítico para trabalhar como comentarista político, na qual, sozinho diante de um telefone, mantinha conversas de cunho cômico com os políticos da época. O programa terminava com o antológico “Carlos, meu filho, não faça isso...”, cada vez com uma nova e irônica referência aos atos do então governador da cidade do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda. Outra ocasião, respondendo a um opositor, muito irado, que lhe disse: “ Vossa excelência é um purgante! Ao que imediatamente, Sampaio replicou: “E Vossa excelência é o efeito dele...”

A violência faz parte da vida humana, mas a maneira como ela é usada, faz toda a diferença no trato diário com nossos semelhantes. Ela difere nas suas formas, porém, na maioria das vezes, deixa um rastro de destruição por onde passa.

O que leva à violência, poderíamos nos perguntar, mas entraríamos em um labirinto que não nos conduziaria a resposta nenhuma.

Para finalizar, cito o Filosofo francês Gérard Lebrun, que escreve que, por ódio dos tiranos, Rousseau dirigiu-se contra os detentores do Poder e não, contra o Poder, e que os filósofos ao se tornarem reis, deixam de ser filósofos: ordenam, prescrevem, ameaçam, punem, quando o soberano tem em mira apenas seu próprio interesse. Em seu livro “O que é o poder?, ele cunha uma frase importante: “Nada mais terrível do que o soberano que declara: Obedeçam, porque a Razão fala em minha voz!” Acrescentando que: “Se a desobediência à lei é um crime, a desobediência à Razão é um sacrilégio.”

Deixo aqui, um espaço para a reflexão...

Sônia Pinto Alves Soussumi

Psicóloga CRP 06/3200

Diretora Financeira do NPA

Membro-efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

Membro-Associada da Sociedade Psicanalítica do Recife

Coordenação: Danilo Goulart