A Raposa lembra ao Príncipe a importância do vínculo

01/09/2015

 

A Raposa lembra ao Príncipe a importância do vínculo

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“[...] - Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música.

E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo?

Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste, mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...”

“[...] Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

- Ah! Eu vou chorar.

- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

- Quis, disse a raposa.

- Mas tu vais chorar! Disse o principezinho.

- Vou, disse a raposa.

- Então, não sais lucrando nada!

- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.” (SAINT-EXUPÉRY,2000)

O trecho acima foi retirado do livro O Pequeno Príncipe, uma obra que traz como mensagem central o amor. O amor como vínculo, o amor como uma “liga” que conecta as pessoas e forma relação que aumenta vida. O vínculo/amor como pulsão de vida.

Promove reflexões sobre a importância do vínculo, do amor englobando empatia, respeito e responsabilidade. Aspectos que se fazem necessárias para época atual, apesar de promovidos em um livro escrito e publicado em contexto de guerra - ano 1943. Pertinência que soa, talvez, como uma denúncia aos tempos difíceis vividos pelas relações entre as pessoas atualmente. Como se permanecesse em guerra, uma guerra silenciosa na relação do humano com humano, do humano com mundo.

Momento, onde os vínculos parecem rompidos, inexistentes, como se predominasse na sociedade um funcionamento, no mínimo, narcísico. Uma assustadora indiferença apresentando-se no desenrolar das vidas em um viver de desencontros, um viver de vida que não reconhece vida levando a situações violentas de um existir desintegrado, desvinculado.

Um viver com situações tristes que vão de um extremo a outro: o humano utilizado como escudo para blindar carro usado em assalto (www.google.com.br/#q=assalto+do+banco+no+conde+Bahia), ou mesmo, o humano posto na carroceria de um caminhão, onde se deposita lixo, sob sol e chuva recolhendo o lixo de toda cidade diariamente. O “não encontro” do ser humano convertido em coisa, em nada.

Diante de um contexto de gente que não reconhece gente, uma fábula se torna inspiradora e nos encoraja para vínculo/amor. A raposa demonstra ao Príncipe a alegria de cativar e ser cativada, lembrando ao humano a importância do vínculo, como potência de vida, independente do tempo de duração.

Ana Joaquina Freire

Psicóloga CRP 19/2763,

Aluna do curso de Psicoterapia Psicanalítica do NPA

[email protected]

data de publicação:01/09/2015