A Psicanálise é Sexy

02/12/2014

 

A Psicanálise é Sexy

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Certa vez, em NY, uma conhecida, que se tornaria amiga, me perguntou com o que eu trabalhava, respondi que era psicóloga, que fazia formação em um Instituto filiado à IPA (a organização fundada por Freud) e que tinha meu consultório particular. Ela falou entusiasmada: Você atende pacientes, com divã e tudo? Sim, eu respondi. It’s so sexy!

Fiquei um pouco na dúvida sobre o que seria sexy nessa situação, cena ou profissão, depois entendi que “Sexy” em inglês é um adjetivo que passou a ser usado, na linguagem coloquial, para designar qualidades de algo que é appealing, atrativo, interessante, cool. Podemos dizer, por exemplo, que uma viagem a Grécia é sexy, ou que trabalhar em determinada empresa é sexy, certa cidade pode ser sexy.

Podemos dizer que a psicanálise é sexy, ser contador, por outro lado... not so sexy.

Atrativo, interessante, fascinante, se a psicanálise não é assim, não sei o que é.

No entanto, sexy refere-se a algo que a cultura vê como atrativo, e se é um uso novo da palavra, são os mais jovens também que deram à ela seu sentido novidadeiro.

São várias as qualidades sexies que tem a psicanálise, em termos de pensamento libertário, de possibilitar o desenlace de sentidos além das aparências dos sintomas e dos comportamentos, de se configurar como um campo teórico rico e múltiplo e por um fazer profissional fundamentalmente interessante, Meltzer diz sobre a prática psicanalítica:

um método que capacita duas pessoas a ter a conversa mais interessante do mundo, hora após hora, durante anos a fio... (Meltzer, 1994)[1]

Apesar de tão sexy, posso imaginar poucas profissões que, aos olhos da cultura, do leigo, do “Monsier Tout Le Monde”[2], seja vista como tão desinteressante, sem atrativos ou simplesmente um pouco desconhecida.

A cena de um senhor sentado em uma poltrona, de óculos, no meio de livros e antiguidades pode ser encantadora para nós, que escolhemos essa profissão, mas dificilmente poderia ser chamada de sexy, nos parâmetros que o termo convoca para si. Uma boa maneira de apreender um termo novo, ou em outra língua, é saber a que ele se opõe, pois bem, sexy se opõe belamente à ideia de boring e boring, em inglês não tem o sentido somente de chato, mas além disso, abarca a ideia de algo entediante, que não merece atenção ou curiosidade.

Se a psicanálise é tão sexy, porque pode parecer, de fora, tão boring?

Quais as imagens que a psicanálise tem publicado para os seus (psicanalistas) e para as pessoas em geral? Falar em pessoas-em-geral é uma contradição quando se trata de psicanálise, que trabalha e entende de pessoas no varejo, não no atacado, mas sem medo de incorrer em generalizações selvagens, acredito ser possível dizer que, pessoas escolarizadas, no Brasil, que não sejam da área, tem pouco acesso à dimensão interessante da psicanálise, enquanto recebem enxurradas de informações a respeito de novos medicamentos, avanços das neurociências, novos transtornos mentais, na forma de reportagens de jornal, blogs, notícias de revistas, novela, e etc.

O senhor sentado em sua poltrona, de óculos, é ainda a imagem mais evidente que a psicanálise publica a seu respeito, junto à essa imagem costuma vir um conjunto de palavras que articulam conceitos próprios à teoria com sintomas de sofrimento psíquico ou com alguma questão da cultura, interpretações que podem não ser compreensíveis às pessoas-no-geral.

Um dos belos aspectos da profissão de psicanalista, na minha opinião, é a possibilidade de se formar aos poucos e por toda a vida (não existe outra maneira), podemos encontrar psicanalistas trabalhando e produzindo cientificamente até os seus 90 anos. Poucas profissões tem em tão boa conta seus profissionais de 70, 80, 90 anos, enquanto que a psicanálise prestigia a trajetória longa e a experiência arrecadada.

No entanto, passados 114 anos dos idos 1900, de quando Freud publicou “A Interpretação dos Sonhos”, penso que uma imagem mais jovem e uma forma de se comunicar mais atualizada, seriam fatores relevantes de aproximação do lado sexy da nossa prática com o resto das pessoas.

Para pensar a psicanálise para além da imagem tradicional:

http://www.psychoanalysisissexy.com

https://www.facebook.com/pop.psychoanalysis?fref=nf.

Marielle Kellermann Barbosa

Membro Filiado à Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

Editora da IPSO (International Psychoanalytical Studies Organization)

[email protected]

data de publicação: 02/12/2014

[1] Melzer, D. e Williamns, M.H. (1994). A apreensão do Belo. O Papel do Conflito Estético no Desenvolvimento na Violência e na Arte. (Trad: Paulo Cesar Sandler) Imago: RJ.

[2]Monsieur Tout Le Monde: senhor todo mundo, qualquer pessoa